domingo, 20 de setembro de 2009

O Sabonete

Aquando da apresentação aqui do Bota Sentido, falamos naquele objecto utilizado por muito boa gente, o sabonete e foi prometido que falaríamos mais extensamente sobre ele. Pois bem, eis que chegou a hora. 

Se ainda estão a pensar porque raio é que o sabonete dá um bom tema para reflectir, dizemos já que não se trata exactamente daqueles pedaços de glicerina e óleos com mais ou menos perfume. Falamos sim num sentido figurado da palavra, com base numa expressão da terra de Sua Majestade, soft soap. O que os ingleses querem dizer com ela é prática comum um pouco por todo o mundo (Portugal, brando costumado, não lhe escapa). Trata-se da lisonja desmedida, da bajulação, expressão que por cá substitui o sabonete pela graxa.  

Ninguém negue que desconheça casos de servilismo. Na nossa vivência em sociedade, nos vários campos e nas diversas escalas, a subserviência faz parte do modo de ser de muita gente. Talvez seja por mantermos sempre relações de hierarquia - existe sempre um soberano e um súbdito - mas a verdade é que os motivos que estão por trás de tal prática nem sempre são os mesmos e tanto podem ser inocentes (às vezes até de forma inconsciente) como podem esconder interesses mais obscuros. Assiste-se a isso nas mais improváveis situações, mas é na política que toma contornos mais graves, desde as bases até às próprias relações entre os Estados. 

Numa altura em que se relega tudo que diga respeito à política, quando o agente político não detém qualquer crédito, esse tal uso do sabonete não ajuda em nada na boa convivência, interpessoal e interestadual. Não é em vão que raramente se fala em ética - arte pela qual se busca uma vida boa e feliz -, porque dela não se pode separar a razão, esta muitas vezes ofuscada.

Longe de estar na lista das virtudes, certo é que o sabonete tem acompanhado a história da humanidade e tudo indica que continuará a fazer parte dos nossos costumes.

Como sabemos, uma mão lava a outra. Com ou sem sabonete.    

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